quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A saga do Almirante Negro..

Motim liderado pelo marinheiro João Cândido ganha versão em quadrinhos
por Sergio Amaral Silva
É provável que, no futuro, 2008 seja lembrado como o ano da recuperação definitiva da imagem de João Cândido Felisberto. Em junho, ele foi anistiado, pelo presidente da República, do crime de liderar a Revolta da Chibata. Em novembro, o lançamento de um novo livro em quadrinhos resgatou esse episódio marcante. Desde que liderou uma das maiores rebeliões armadas do Brasil, em 1910, o marinheiro se tornou maldito no meio militar. Não é para menos. Sob o comando de João Cândido, apelidado de "Almirante Negro" pela mprensa da época, 2 300 homens tomaram quatro navios e dispararam contra o Rio de Janeiro. Uma das balas de canhão atingiu o Palácio do Catete, sede do Poder Executivo. O motim começou em 22 de novembro e só acabou quatro dias depois, com a aprovação de uma lei que acabava com os maus-tratos nos navios. Além de contar essa história, o livro Chibata! (Conrad) retoma a saga do Almirante Negro, desde que ele nasceu, em 1880, oito anos antes da proclamação da Lei Áurea. A obra passa pelo alistamento de João na Marinha em 1894, aos 14 anos. Depois se detém no ano de 1908, quando ele viajou até a Inglaterra para acompanhar a fase final de construção do Minas Gerais, a maior embarcação de guerra brasileira. Lá descobriu que, nos mais importantes países da Europa, fazia décadas que os marinheiros eram bem alimentados e não recebiam mais punições com chicotadas, como ainda acontecia por aqui.

CENA DEDUZIDA

Nas palavras de um dos autores, o desenhista cearense Hemeterio, o livro é uma "ficção fortemente baseada em fatos reais". Entre os trechos dramatizados estão a infância de João, sobre a qual se sabe pouco, e um encontro dos líderes com o jurista Ruy Barbosa (1849-1923). "É uma cena deduzida", afirma o outro autor, o escritor (também cearense) Olinto Gadelha. "Ruy era simpático à causa e conhecia as reivindicações. Não podemos provar que houve o encontro, mas faz todo sentido retratá-lo." A rebelião é narrada com grande riqueza de detalhes. Mas boa parte de Chibata! se detém na fase final da vida de João Cândido. Depois de alcançar seu objetivo, o Almirante Negro foi preso com 18 companheiros; o calor da cela matou 16 deles. Libertado, nunca mais retomou a vida. Sua mulher e sua filha se suicidaram. Sem emprego, viveu de favores e foi internado em um sanatório até morrer sozinho, em 1969. Em 1975, quando João ainda era malvisto, a canção O Mestre-Sala dos Mares, de João Bosco e Aldir Blanc, foi censurada por fazer referência à revolta. Sua letra foi citada quando o Senado aprovou a anistia: "Salve o navegante negro/Que tem por monumento/As pedras pisadas do cais."

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